quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

BOOK REVIEW | Amemo-nos uns aos outros


Título: Amemo-nos uns aos outros
Autor: Catherine Clément
Editora: Porto Editora
Ano de edição: 2016
Páginas: 272


Sinopse: 

Em 1871, a Comuna de Paris, a mais nobre revolução que o mundo já conheceu, incendiou os corações e as ruas.

Élisabeth Dmitrieff é a enviada e representante de Karl Marx na capital francesa. Jovem, tão frágil quanto arrebatadora, recusa-se a amar algo ou alguém que não a revolução. Léo Frankel, revolucionário húngaro e também ele membro da Primeira Internacional, tem o sonho de construir um modelo ideal de sociedade sem exploradores nem explorados. Mas poderá o amor nascer na insurreição e sobreviver no coração da barricada?

Numa escrita apaixonada e de ritmo alucinante, combinando personalidades históricas como Louise Michel, Victor Hugo, Karl Marx ou Georges Clemenceau com personagens ficcionadas, Catherine Clément faz o retrato literário destes dias trágicos e gloriosos, «que começaram com a alegria e terminaram com o sangue», oferecendo-nos uma narrativa de esperança e de sonho, numa homenagem a todos cujas vidas foram tocadas pelo Génio da Liberdade.


Opinião: 

"A nossa divisa estava bordada a vermelho e ouro, AMEMO-NOS UNS AOS OUTROS, com o verbo «amar» a envolver num semicírculo «uns» e «aos outros». E essas palavras caíam-me bem. O amor em vez da guerra!”

A autora cativa-nos logo no capítulo inicial, com um narrador no mínimo improvável – o Génio da Liberdade, a escultura da praça da Bastilha que ainda hoje podemos ver naquele lugar, “Empoleirado na minha coluna, de pé no ar, sexo ao léu, com as minhas grandes asas abertas, a minha estrela na testa, o archote numa mão e uma cadeia quebrada na outra” – foi assim que presenciou o clamor das multidões que pelo palco das revoluções francesas passaram e, também, todas as batalhas, vitórias e derrotas que aqui se vão narrar.

(...)
Catherine Clément dá-nos uma visão muito completa destes tempos agitados, contrapondo aqueles que, tal como Léo, estão “do lado da insurreição e da violência legítima”; com os que, como Abel, não suportam a violência. A visão adquire os 360 graus quando, a par das investidas militares, questões políticas e princípios e medidas defendidos pela Internacional, a autora nos presenteia com descrições bastante autênticas e visuais do ambiente parisiense da época, mostrando ainda as consequências práticas desses dias sangrentos no povo.

A forte componente histórica do livro acaba por dar as mãos ao romance quando introduzimos na história Élisabeth Dmitrieff, uma jovem russa representante de Karl Marx na Comuna, que se recusa “a amar algo ou alguém que não a revolução”. Lisa, a par de outras personagens, vem trazer um ponto diferenciador e fortíssimo nesta obra: o papel da mulher na revolução. No que a isto diz respeito, “Amemo-nos uns aos outros” é soberbo. (...)

A linguagem, que se aproxima a uma conversa com o leitor, reúne o melhor de dois mundos: a proximidade que só o discurso na primeira pessoa oferece e o conhecimento de todos os acontecimentos de que só um narrador omnipresente é capaz.

Numa altura em que se defendia “não gastar energia com amores vãos”, não faltam elementos nesta história que contrariem a premissa “não há lugar para o amor durante a Revolução”. Misturando de forma brilhante personagens fictícias e reais, Catherine Clément dá-nos uma verdadeira lição de história prestando, simultaneamente, uma sentida homenagem “a todos cujas vidas foram tocadas pelo Génio da Liberdade”. O Génio que tudo presenciou e que, na praça da Bastilha, relembra a todos os parisienses o duro preço da vitória da liberdade.

“Léo tinha razão em filiar-se na Internacional. Era quase o meu lema – Amemo-nos uns aos outros –, só que esse amor está na ponta das nossas espingardas.”


Opinião completa no Deus me Livro
Classificação:

1 comentário:

  1. Já ouvi falar sobre este livro e tenho alguma curiosidade.
    Vai ficar na minha lista de espera :)

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